Você já deve ter ouvido falar de comida afetiva. Este termo é a tradução de Confort Food e uma tendência no mundo todo. Descreve aquela comida que nos remete a um momento marcante, a uma pessoa querida. Traz à tona uma memória gostosa que nos faz sentir aconchegados. É quase como um abraço.

Geralmente são pratos simples, sem a sofisticação nem a gourmetização que vemos hoje. Cada um tem o seu preferido: uma sopa da vovó, um mingau, um feijão da mamãe…  incluímos também aquelas comidinhas que passam de geração para geração. Dependendo da origem da família, podendo ser uma macarronada da mama italiana ou um quibe para os descendentes árabes.

Preparar uma comida afetiva e passar aos entes queridos uma receita de família é muito mais do que o resgate de sabores deliciosos. É um ritual que nos conecta aos nossos ancestrais, que faz uma ponte entre nossas origens e nosso legado. É um momento em que podemos nos transportar à infância, revisitar algumas sensações e memórias que trazem um conforto inexplicável. Exige dedicação e afeto.

As experiências gastronômicas que vivemos ao longo da vida formam o nosso paladar. A memória afetiva tem um papel importantíssimo na determinação de nossas preferências. É impossível dissociar cozinha de afeto, afinal “Cozinhar é um ato de amor”.

Infelizmente estamos passando por uma fase de terrorismo alimentar. Pode parecer exagero, mas vejo extremos que oscilam entre o fast food com  ultraprocessados e industrializados e a cozinha restritiva. Todo extremo é ruim.

Não podemos ter medo da comida. Não podemos usar o termo comida afetiva para justificar uma fuga da dieta, nem para explicar ao mundo o porque de estarmos comendo um frango frito. Quando precisamos nos justificar para os outros significa que não estamos confortáveis com nossa decisão.

Quero trazer aqui a reflexão da necessidade de equilíbrio, moderação, temperança e, principalmente, da reconexão com a comida. Precisamos fazer as pazes com os alimentos, fazer um movimento sem medo. Vamos ter alegria em resgatar a nossa história e honrar a nossa família.

O confort food precisa voltar a ser uma forma de preparo que nos desperta conforto e bem estar, que nos lembra de momentos especiais, dos almoços de domingo, das festas de criança, das experiências vividas. Chega de usar nossas memórias para justificar os nossos exageros. Comida não pode ser uma válvula de escape que depois vai trazer remorso… mas  deve sim trazer alegria e frescor espantando qualquer sentimento de culpa.

E você, vai fazer uma pausa nessa correria maluca e resgatar as coisas simples que habitam a sua lembrança ou vai continuar na guerra contra a  comida?