Água, farinha, sal e muito sabor!
Ainda não conheci ninguém que não goste do cheirinho de um pão saindo do forno.
Eu amo pão e amo fazer pão, especialmente os de fermentação natural. Fico admirada como tão poucos ingredientes se abrem em tantos aromas e sabores. A harmoniosa interação dos 4 elementos: terra, água, ar e fogo. Partimos do trigo que brota na terra, acrescentamos água para dar liga e estimular a atividade do fermento. Estes maravilhosos serem que incorporam ar na massa e geram tantos sabores. Por fim levamos ao fogo para transformar aquela massa disforme no mais apetitoso pão.
As mudanças que acontecem são químicas, físicas e biológicas. São as matérias que aprendemos na escola nos mostrando como funciona a dança da natureza, afinal “nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”.
Fazer um pão é aceitar a nossa falta de controle sobre a natureza. O tempo de fermentação vai variar de acordo com o clima, a quantidade de água vai variar de acordo com as características do trigo. A matemática se perde em meio a tantas variáveis.
Com o pão aprendemos a planejar, afinal precisamos sair para comprar os ingredientes e, mais do que isso, nos programar para que cada etapa seja feita sem pressa e com a antecedência necessária para criar o alimento perfeito. É como programar uma viagem, aproveitando a preparação e entendendo que o período fora de casa é apenas o ponto alto, não o todo.
Também aprendemos a esperar… fazemos a mistura, esperamos, sovamos, esperamos, dobramos, esperamos, colocamos no forno, esperamos. Aqui não tem lugar para a pressa. Trabalhamos com paciência.
Aprendemos a cuidar, afinal o fermento natural é um elemento vivo que precisa de alimento, de cuidado e de proteção. Não podemos colocar farinha nem demais nem de menos, tem o tempo de ficar no calor para crescer vigorosamente e no frio para aguardar pacientemente. Assim como nós, até o pão tem seus momentos de expansão e retração.
Fazer pão para mim é uma terapia. Sentir a massa mudando de textura pelo trabalho das minhas mãos, perceber a natureza agindo, estar conectada com seus tempos e momentos. Chegar no fim da jornada e receber a recompensa: um maravilhoso pão a ser compartilhado.
Fazer pão sem tempo é saber que lá no final você vai ter um pão duro ou pesado, mal assado ou queimado. É simplesmente impossível conseguir um bom resultado correndo contra o relógio. A industria pode até trazer alguma agilidade no processo, mas às custas de redução dos aromas, sabores e nutrientes ou do aumento do uso de espessantes, aromatizantes, humectantes e tantos outros aditivos que interferem em nossa saúde.
A observação é muito importante em todo o processo. O conceito de momento neste caso é completamente diferente de tempo, porque a hora de colocar para assar não é a hora do relógio, mas sim a hora em que vemos uma massa robusta, crescida, elástica. Uma massa que há pouco parecia desandada, molenga e sem vida é transformada pelo fermento que adiciona ar a massa e modifica seus elementos e ligações.
Gosto de extrapolar as minhas experiências com a natureza para as outras áreas da minha vida. Quantas vezes eu não apressei os meus filhos, quando o que eu precisava era ter começado antes (como eu faço com o pão). Quantas coisas na minha vida eu já “retirei do forno” cruas por pura pressa. Tantas vezes eu tentei executar sem ter todos os ingredientes à mão.
Outras vezes parei o processo no meio por pensar que já tinha desandado, enquanto o que faltava era deixar “fermentar”, simplesmente deixar a natureza seguir o seu curso para me entregar o prêmio final.
Pois é… foi fazendo pão que eu aprendi que os atalhos podem gerar resultados, mas nunca terão o mesmo sabor, o mesmo aroma, a mesma cor e, muito menos, a casca crocante de um pão natural que lentamente transforma a natureza em si mesmo.